domingo, 19 de julho de 2009

Metadisciplinar: uma opção de mudança educacional


Refletir sobre o processo educativo é permear pelo campo do planejamento. É de fundamental importância que o grupo escolar seja consciente de que é através do planejamento que se faz viável os objetivos estabelecidos durante o ano escolar. A comunidade escolar (docentes, discentes e responsáveis), deve ter claro a funcionalidade e a importância do que é fazer um plano. O ato de planejar tem como primeiro passo um estudo da situação real do ambiente escolar, quais os aspectos negativos e positivos que circundam determinado meio.
Um estudo aprofundado de como vivem as famílias dos alunos, em que ponto deve-se atuar para, de certa forma, melhorar a convivência na sociedade e o desenvolvimento da mesma. Depois de termos feito esta avaliação da situação é hora de analisarmos o que a escola pode fazer, e é neste momento que deve-se criar objetivos que serão feitos através de perguntas surgidas já na análise da situação da comunidade escolar, para então, propor objetivos que irão sanar as dificuldades verificadas pelo grupo.
E devido a isso, a metadisciplinaridade vem auxiliar a comunidade escolar norteando-a nas concepções filosóficas, psicológicas e pedagógicas que permeiam um Projeto Político Pedagógico, fazendo com que ele satisfaça as reais necessidades da comunidade escolar. Ressaltando que, para o planejamento ser eficaz é preciso que o mesmo seja iniciado no final do ano letivo para ser aplicado no ano seguinte.
É necessário que se planeje com o pensamento voltado ao aluno que irá receber este plano. Para isto ser viável é preciso que todo o grupo esteja efetivamente envolvido. O ponto de partida de um planejamento pode ser o próprio ponto de partida, ou o ponto de chegada, ou seja, devemos estar conscientes em qual lugar queremos chegar, estarmos cientes do que queremos atingir. Desta forma, o plano elaborado não perderá seu rumo norteador e alcançaremos os objetivos idealizados.
Para que o planejamento escolar dê certo, o gestor tem de assumir uma função vital, a de manipular o grupo docente. Cabe a ele estar instigando o grupo a planejar, e a difícil tarefa de manter um clima de comprometimento, sensibilidade e respeito entre os professores, pois se torna complicado o ato de planejar quando a escola, seus integrantes, vive em um clima hostil. Todos devem respeitar os diversos tipos de opiniões e ações para que o planejamento aconteça. Além disso, é preciso que as função dos atuantes da escola estejam bem resolvidas, e que o grupo esteja bem organizado.

Deve ser feito na escola dois planejamentos, um da unidade escolar, de forma coletiva, e outro individual de cada disciplina. O professor quando faz o seu plano tem de levar em conta as características dos alunos, ou melhor, as necessidades e as individualidades de cada um. O plano para ser completo tem de acalentar a “bagagem” dos alunos, que nem sempre são as mesmas, não só as dificuldades precisam ser trabalhadas, mas também as habilidades deverão ser exploradas.
Todas estas pesquisas, metas e objetivos, caminhos traçados pelo grupo para um bom andamento da escola, se tornarão um material de importância para o meio educativo, pois de nada adianta se fazer um P.P.P. muito bem traçado se o mesmo só possuir finalidade burocrática. Ele deve ir muito além de uma exigência burocrática, é o documento no qual estão explícitas as metas e objetivos que se referem às atividades pedagógicas, administrativas bem como as concepções filopsicopedagógicas.


Projeto pedagógico, busca um rumo, uma direção. É uma ação intencional com um sentido explícito, com compromisso definido coletivamente. Por isso, todo processo pedagógico da escola é, também, um projeto político por estar intimamente articulado ao compromisso sócio-político e com os interesses reais e coletivos da população majoritária. É político no sentido de compromisso com a formação do cidadão para um tipo de sociedade. (VEIGA, 1995, p.35)


O Projeto Político Pedagógico deve ser preparado dentro de três vieses, o filosófico, o psicológico e o pedagógico. Dentro destes três rumos encontramos diversos teóricos que nos dão suporte e embasamento para a estruturação do P.P.P. No campo filosófico encontramos o apoio pluridimenssional em seus aspectos econômicos, políticos e sociais, pois, é a partir dele que se responde que tipo de cidadão quer se formar. Já no campo psicológico, temos o embasamento para sabermos quais caminhos devemos tomar com o nosso indivíduo, sem deixar de respeitar suas limitações e habilidades. No campo pedagógico temos os caminhos que vamos utilizar para fazer com que encontremos nossos objetivos. Estes três eixos dão sustentação ao triângulo da educação e a sociedade que queremos formar.
Em frente as realidades da escola, sabemos que existem vários fantasmas que espantam e dificultam a formulação do planejamento. Começamos pela parte de funcionamento das atribuições de cargos dentro da escola. Percebe-se que as funções se confundem ou se limitam dentro da escola. A mais visível e omitida é a do gestor, que sufoca sua atuação vital dentro da escola, com burocracia, limitando-se a cuidar somente da parte administrativa da unidade escolar. Sem o gestor para estar estimulando os professores esta tarefa acaba sendo atribuída ao assistente técnico pedagógico, que, em muitos casos, não sabe exatamente qual a sua função, que em muitas vezes acaba tomando a mesma posição do gestor, limitando-se somente a parte administrativa.
Os professores dentro desta situação acabam ficando a mercê deste descaso, muitas vezes, o que pode fazer com que os professores trabalhem em um clima de descomprometimento. Não podemos atribuir somente ao planejamento bons resultados, pois o professor será o grande viabilizador, sem ele o projeto perde sua potencialidade. É preciso que os professores sejam comprometidos e engajados com o planejamento da escola e a sua funcionalidade, para que a mesma possa dar conta da sua real importância, mesmo que utópica, de oportunizar uma efetiva mudança socioeconômica e política significativa.
Sabendo desta real situação em que os professores se encontram perante a sociedade, na qual as decisões vem de cima para baixo, o docente acaba tornando-se executor das burocracias, deixando de lado as metas estabelecidas no Projeto Educacional. Além desse descaso das autoridades competentes, temos os pais que tampouco estão realmente inseridos no ambiente escolar, no qual, vêem a escola como uma opção de colocarem seus filhos sem precisarem se preocupar.
Esse descaso com a escola, os professores e todo ambiente escolar que é evidente atualmente, é assustador, pois, se pensarmos no caos que a sociedade vive, não é possível que aja uma mobilização que realmente passe pelo Projeto Metadisciplinar, onde, pais, professores, alunos possam elaborar metas e planejamento para uma efetiva mudança social e comportamental, e que almeje uma sociedade mais justa e igualitária e, principalmente, uma educação de qualidade.
Um outro empecilho que deve ser ressaltado e analisado é a falta de aulas atividades. Se analisarmos a situação atual do professor, perceberemos que uma das grandes dificuldades que o mesmo enfrenta e a falta de tempo para o planejamento coletivo, e também para o planejamento da sua própria disciplina. Sabemos que as funções do professor vão muito além dos quarenta e cinco minutos que o mesmo permanece na sala de aula. Não só tem ele o período na sala de aula, como outras atribuição que nem sempre são resolvidas em suas aulas atividades.
Que professor, que nunca corrigiu uma atividade de seus alunos em casa, por falta de tempo para executar as mesmas nas aulas atividade? Como um professor que trabalha quarenta horas semanais, terá tempo de preparar aula para suas turmas, que devem passar de dez, tem tempo para fazer um trabalho bei feito, disponibilizando unicamente do tempo que o estado lhe remunera? É preciso de tempo para planejar, e este tempo para planejar faz parte do nosso trabalho, porem parece que esta hora atividade é mais uma obrigação extra que o professor tem de executar sem ser remunerado. Isso quando o professor consegue disponibilizar o tempo para tal atividade, caso contrário, a planejamento passa a ser somente mais um documento utópico.
Como alcançaremos a nossa escola tão sonhada, se não nos fornecem o que é mais importante para transforma-lá em tal ideal. É na maioria das vezes o professor quem faz a parte filosófica, psicológica e pedagógica acontecer, enquanto isso, o restante dos funcionários da escola se escondem nas secretarias, e passam os dias resolvendo questões administrativas, esquecem que o nosso grande resultado e o crescimento do nosso aluno em todos os aspectos. Enquanto os superiores fazem vistas grossas a esta situação os alunos padecem e os professores perdem as esperanças de poderem concretizar seus sonhos de educadores comprometidos.
Edio Costa


Referências


RAMOS, Paulo. Os pilares da metadisciplinaridade no planejamento. Blumenau. Odorizzi, 2007.

VEIGA, Ilma Passos Alencastro. Projeto Político Pedagógico da Escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1995.